sexta-feira, 13 de junho de 2008

Pastor em ativa e a ocupação de cargo político

Primeiramente gostaria de destacar que o povo evangélico deve sim participar da política (e não da politicagem imperante no mundo). Devemos exercer não o nosso direito de sufrágio, mas o nosso dever (como entendo ser) de escolhermos nossos representantes no legislativo e executivo. Destaque-se também que não vejo mal algum em um crente ser candidato a qualquer cargo público, pelo contrário, acho muito louvável e algo digno de total apoio por parte do Povo de Deus, pois estamos vendo o tanto que a liberdade da nossa fé tem sido atacada por projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional.

O objetivo deste artigo, como creio que ficara exposto claramente em seu título, é analisar (principalmente do ponto de vista bíblico, claro) a situação em que um pastor que tem em sua responsabilidade direta uma igreja, um rebanho para cuidar, exercer ao mesmo tempo cargo político, ou seja, acumula a nobre função de pastor do povo de Deus com um cargo político.

Reitero que não é a minha intenção atacar ninguém que se encontre ou possa vir a se encontrar nesta situação, mas cabe citar, como sempre fora citado em meu blog, que a Palavra de Deus não pode, em hipótese alguma, ser subjugada pela vontade e vaidade humana. Somos nós que temos que nos amoldar com a Bíblia Sagrada, e não esta que deve se amoldar as nossas filosofias e comodidades. Esta é uma realidade a qual não podemos fugir nem negar. A Bíblia está acima de tudo e de todos.

Em um primeiro momento cabe destacar que Israel é Israel, Igreja é Igreja. O que quero dizer com isso? Quero dizer que são concertos totalmente distintos, cada um com sua respectiva característica. Na antiga aliança era necessário a intermediação do sacerdote para expiação dos pecados, na nova podemos nos dirigir diretamente a Deus por meio de Cristo; na antiga aliança o acesso aos Santo dos Santos estava bloqueado do povo por um véu, na nova temos o acesso direto e constante ao Santíssimo Trono da Graça Divina; na antiga aliança eram necessários sacrifícios para a remissão dos pecados, na nova aliança os pecados já foram perdoados pelo perfeito e eterno sacrifício de Cristo; na antiga aliança víamos Israel lutando, guerreando com espadas na mão, na nova vemos as ordens de Cristo no sentido de oferecermos a outra face e de retribuir o mal com o bem; na antiga aliança vemos que Deus estabeleceu para com Israel um Estado teocrático, onde o próprio Deus governava diretamente a nação, ou seja, Estado e religião judaica se confundiam, na nova aliança vemos a separação entre Estado e religião, dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

É justamente neste último ponto em que vou me deter e me aprofundar um pouco mais. Os defensores da participação de pastores que estão na ativa ministerial na política sempre, e não há exceção alguma, se fundamenta no Antigo Testamento; nunca citam fundamentos neo-testamentários. Citam, em defesa da cumulação, exemplos de José, Davi, Salomão, no sentido que eles reinaram e julgaram, mas se esquecem que o ministério vero-testamentário era tríplice, ou seja, existia a figura do Rei (Estado), Sacerdote (Representante do povo perante Deus) e Profeta (representante de Deus perante o povo). Nunca se irá ler na Bíblia um caso em que o Rei era ao mesmo tempo Sacerdote, e, quando um Rei “gaiatinho” se meteu a “besta” e quis fazer às vezes de Sacerdote, acabou perdendo o reinado; basta ler 1 Sm 13:8-14 para conhecer o fracasso do Rei Saul, que quis fazer as vezes de sacerdote, algo que não era de sua alçada e chamada. Já adiantando alguma possível objeção usando o exemplo de Melquisedeque (que era Rei e Sacerdote de Salém), basta apenas lembrar que ele era um tipo que apontava para o Cristo da Nova Aliança, algo básico no estudo da tipologia bíblica.

Portanto, mesmo tentando usar Israel para justificar a cumulação da função de pastor com um cargo político, falta fundamento e sistemática bíblica.

Quando chegamos no Novo Testamento, a Eterna e Perfeita Aliança, aí é que o negócio se complica mais ainda para os defensores da cumulação da função de pastor com cargo político. Simplesmente não há, em todo o Novo Testamento, um exemplo sequer de algum apóstolo, bispo, evangelista ou diácono que exercesse algum cargo político, muito menos há qualquer tipo de incentivo para tal acumulação.

Para começo de conversa, vamos transcrever Mt 22:17-21: “Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Aqui Jesus realizou, de um modo claro e incontestável, a separação entre Estado e religião, algo diferente da Antiga Aliança. Jesus reconheceu o governo secular como autoridade constituída, mesmo sendo formado por pessoas ímpias, e esta verdade doutrinária se encontra registrada e confirmada sistematicamente em Rm 13:1-7 e 1 Pe 2:13-17.

O apóstolo Paulo, onde escreveu aconselhando, instruindo e motivando o jovem pastor Timóteo, assim se expressou: “Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra” 2 Tm 2:4. Paulo aqui estava se referindo à militância da fé, mais especificamente à militância do ministério episcopal, como bem assevera a epígrafe da Bíblia de Estudo Pentecostal, onde este verso se encontra em uma seção intitulada “A aflição de Paulo por Timóteo. Exortação à firmeza e à consistência no ministério”. Como bem instruiu o apóstolo dos gentios ao jovem pastor, aquele que almeja o episcopado excelente obra almeja (1 Tm 3:1), mas o mesmo deve ser, dentre tantas qualidades citadas por Paulo: irrepreensível, honesto, não cobiçoso de torpe ganância, não contencioso, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo (1 Tm 3:2-7). Portanto, aquele que milita, no episcopado principalmente, não pode se embaraçar com negócios desta vida, pois assim tomará o tempo do mais nobre e precioso trabalho que pode existir nesta terra, que é o de pastorear a igreja de Jesus. Quem fora chamado para esta nobre função, não pode, em hipótese alguma, se envolver com funções seculares, e vejo neste quadro principalmente a função de político.

O conselho de Paulo aos bispos de Éfeso deve sempre estar nos corações daqueles que cuidam do povo de Deus: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” At 20:28, pois somente assim os pastores (bispos) poderão dizer no final de seus ministérios o que o próprio Paulo disse em 2 Tm 4:7: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”.

Concluo, portanto, que não é permitido, biblicamente falando, que um pastor que exerce sua função de líder de uma igreja local, exercer outra função secular que venha a atrapalhar e prejudicar o seu ministério eclesiástico. Caso queira entrar para o mundo da política e ocupar algum cargo político, entregue o pastoril e liderança da igreja que faz parte, para que outro venha e ocupe o seu lugar com tempo exclusivo de dedicação para com a Obra de Deus.

Com amor e temor,

Anchieta Campos

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